quarta-feira, 11 de junho de 2014


Trajetória Black

 

Paulo Novais

O termo soul music ("música da alma") surgiu nos EUA para designar um tipo de música profundamente influenciada pelo gospel cantado pela comunidade negra norte-americana. Apesar de sua origem religiosa, o gênero é marcado por apresentar um ritmo bastante sensual, tanto na interpretação como no modo de ser dançado.

Com o surgimento de gravadoras como a Motown que, entre outros, revelou Diana Ross, e de artistas como Aretha Franklin, Marvin Gaye e James Brown, o gênero se popularizou nos EUA e no mundo. No Brasil, sua influência começou a ser notada no início dos anos 70, graças aos DJs Big Boy e Ademir Lemos que, através dos seus programas de rádio e dos "Bailes da Pesada" - organizados na cervejaria carioca Canecão - passaram a unir a grupos de rock artistas como Wilson Picket e grupos como Kool & The Gang. Contudo, quando a casa resolveu se especializar em artistas da MPB, o baile passou para clubes dos subúrbios cariocas, onde a penetração da soul music e do funk era maior.

Em meados da mesma década, foi formada a equipe Soul Grand Prix, embrião de equipes hoje famosas como a Furacão 2000, que começou a lotar as quadras dos clubes e gerou o que se convencionou chamar de era de ouro dos bailes black. Essa penetração social, principalmente em camadas da população negra que se identificavam com a postura 'black power' dos artistas norte-americanos de funk, logo resultaria no Movimento Black Rio. Daí surgiram nomes importantes como Cassiano e seu grupo Os Diagonais, Gerson King Combo, Tony e Frank, Banda Black Rio, Carlos Dafé, Tony Tornado, Sandra de Sá e Dom Mita.

Porém, sem dúvida, o maior nome do soul brasileiro a despontar na década de 70 foi Tim Maia. Quando voltou dos Estados Unidos, trouxe na sua bagagem um vasto conhecimento sobre o que estava acontecendo na música negra norte-americana. Contudo, só conseguiria mostrar o seu trabalho a partir do final dos anos 60 e início dos 70. Seguindo seus passos, Sandra Sá (que anteriormente havia sido cantora da Banda Black Rio) e Ed Motta foram os principais nomes dos anos 80. No final dessa década, a música negra brasileira, sob influência da música norte-americana, começou a adotar estilos como o hip hop e rap, marcados pela bateria eletrônica, pelo modo de cantar falado e com forte crítica social quanto às condições da comunidade negra. Nessa época, também surgiu o que se convencionou chamar de "charm", uma variação romântica, menos agressiva e contestadora do que o rap e o hip hop. Dessa forma, na década de 90, a maioria dos artistas brasileiros influenciados pela música negra norte-americana seguia um estilo ou outro. 

 

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